Os agrupamentos que neste ano lectivo fundiram as escolas do pré-escolar ao secundário ganharam uma escala tão grande que, por vezes, se tornam ingovernáveis. As direcções ainda estão a aprender a lidar com a frustração dos professores que perderam autonomia e agora se sentem ignorados. Cinco meses depois de as comissões administrativas provisórias (CAP) assumirem a gestão deste novo modelo, há ainda carências de meios ou de docentes que se tornaram mais evidentes após a fusão. "A sobrecarga burocrática aumentou uma vez que as escolas estão distantes umas das outras. As rotinas de trabalho também são outras com implicações na qualidade dos serviços prestados, o que tem gerado um clima de escola agastado e desgastado", conta Ana Clara Almeida, que dirige o agrupamento de Penacova
Em boa parte dos casos, as escolas não conseguem funcionar em pleno porque agora é mais difícil fazer chegar a informação do topo até à base da pirâmide, sem se perder pelo caminho. Nos agrupamentos de escolas de Condeixa, de Vila Real de Santo António, Penacova, Arganil ou de Ana Castro Osório (Mangualde), as direcções enfrentam todos os dias a resistência de dezenas de professores avessos às mudanças. Os cinco novos agrupamentos procuram ainda o melhor caminho para eliminar o excesso de burocracias, encontrar as estratégias para reorganizar um quadro de docentes que triplicou ou descobrir novas rotinas para uniformizar as práticas de escolas até há pouco tempo habituadas a trabalhar com autonomia.
Há um longo percurso pela frente nestes agrupamentos, os primeiros a inaugurar um modelo de gestão que em Setembro do ano passado deu origem a 84 novas unidades que ficaram conhecidas como mega-agrupamentos. E, entretanto, o governo já avisou - as fusões de escolas são para continuar no próximo ano lectivo. Juntar todos os graus de escolaridade numa gestão única é o padrão que o Ministério da Educação quer estender a todo o ensino público. Os agrupamentos de Arganil, Condeixa ou de Penacova são os pioneiros e estão entre os poucos que podem partilhar com as próximas escolas a serem fundidas o que correu mal num processo feito contra o tempo e que está ainda longe do sucesso.
A maior fusão De um mês para o outro, a comissão administrativa provisória das escolas de Ana Castro Osório passou a dirigir um agrupamento com 2800 alunos e 340 professores. É a maior fusão até agora e, gerir um quadro de funcionários e docentes três vezes maior, tornou-se numa tarefa muito mais complicada. Reuniões gerais com todos os professores deixaram de acontecer: "Precisaria de um estádio para conseguir juntar todos os professores que agora integram o corpo docente", conta ao i António Agnelo Figueiredo, presidente da CAP.
O grande obstáculo é agora conseguir que as orientações da direcção cheguem intactas no final da corrente de transmissão: "Pôr toda a gente a trabalhar junta é o nosso principal desafio, sobretudo porque é imprescindível uniformizar as práticas de escolas que antes tinham métodos de trabalho distintos." Legislar por "despacho" passou a ser o caminho mais rápido e fácil. Os professores tiveram de se habituar às "ordens de serviço" que, em muitos casos, substituíram o debate e a partilha de decisões. A internet entrou no quotidiano das escolas pois é a única ferramenta que permite manter a comunicação com o mínimo de falhas: "Passámos a usar um portal que está em actualização permanente."
MegaReuniões Nas escolas de Penacova, que juntou 1568 alunos de dois agrupamentos extintos, as reuniões também passaram a ter "um número elevado de participantes", conta a presidente da CAP Ana Clara Almeida: "Isso tem dificultado o cumprimento da ordem de trabalhos, a circulação de informação e a tomada de decisões." Para facilitar a comunicação, a comissão criou a figura de representante da disciplina dentro dos novos departamentos que agora incluem várias disciplinas. Depararam-se com novo constrangimento. Dada a redução do crédito global de horas do corpo docente, consequência ligada à fusão, os professores estão ainda mais limitados no tempo disponível para reuniões de planeamento ou de avaliações: "A manutenção do regime de horário de trabalho dos professores, nas circunstâncias actuais, exigindo-se imenso sem contrapartidas, tem sido um quebra-cabeças para a CAP."
Os obstáculos nas escolas de Condeixa não são muito diferentes. O agrupamento juntou 1600 alunos e 210 professores e a recente dimensão do corpo docente "coloca sérias dificuldades ao nível da organização de reuniões, sendo agora mais difícil conseguir "gerir modos de trabalhar distintos", diz a dirigente da CAP Anabela Lemos. De resto, as dificuldades repartiram-se por todos os sectores, mas a pior fase aconteceu na preparação do arranque do ano lectivo. A fusão das várias bases de dados (alunos, professores e funcionários) foi a prioridade, uma vez que foi necessário processar vencimentos, uniformizar documentos contabilísticos, turmas e listagens várias de alunos. Foi portanto preciso reforçar a assistência técnica, o que a Direcção Regional de Educação do Centro não conseguiu prestar, critica a presidente.
Comunicações interrompidas No agrupamento de escolas de Arganil ainda hoje há processos que ficaram incompletos: "A transmissão de tarefas ou de orientações continua a ser um problema, uma vez que ainda não temos um servidor que nos permita comunicar informaticamente com as escolas básicas do 2.o e 3.o ciclos e a secundária onde está a base de dados de alunos, professores e funcionários", conta o dirigente da comissão Fernando Antunes. Cristina Silveira, do Agrupamento de Vila Real de Santo António, não ficou muito surpreendida com as dificuldades que encontrou quando em Agosto assumiu a CAP: "Cada uma das escolas tinha a sua organização própria e a fusão implicou alterar normas e hábitos administrativos ou relacionais." O primeiro puzzle passou por construir horários com professores que dão aulas em duas escolas diferentes.
A diminuição de horas de crédito também aqui não facilitou a distribuição dos cargos nem dos projectos aprovados em cada uma das cinco escolas reagrupadas. Foi preciso ainda importar os processos dos alunos, usando programas informáticos diferentes, reorganizar serviços e processos administrativos e departamentos curriculares tendo em conta a distância entre as escolas. Tudo feito contra a vontade da comunidade, mas que teve de ser feito "porque tem de ser".
Em boa parte dos casos, as escolas não conseguem funcionar em pleno porque agora é mais difícil fazer chegar a informação do topo até à base da pirâmide, sem se perder pelo caminho. Nos agrupamentos de escolas de Condeixa, de Vila Real de Santo António, Penacova, Arganil ou de Ana Castro Osório (Mangualde), as direcções enfrentam todos os dias a resistência de dezenas de professores avessos às mudanças. Os cinco novos agrupamentos procuram ainda o melhor caminho para eliminar o excesso de burocracias, encontrar as estratégias para reorganizar um quadro de docentes que triplicou ou descobrir novas rotinas para uniformizar as práticas de escolas até há pouco tempo habituadas a trabalhar com autonomia.
Há um longo percurso pela frente nestes agrupamentos, os primeiros a inaugurar um modelo de gestão que em Setembro do ano passado deu origem a 84 novas unidades que ficaram conhecidas como mega-agrupamentos. E, entretanto, o governo já avisou - as fusões de escolas são para continuar no próximo ano lectivo. Juntar todos os graus de escolaridade numa gestão única é o padrão que o Ministério da Educação quer estender a todo o ensino público. Os agrupamentos de Arganil, Condeixa ou de Penacova são os pioneiros e estão entre os poucos que podem partilhar com as próximas escolas a serem fundidas o que correu mal num processo feito contra o tempo e que está ainda longe do sucesso.
A maior fusão De um mês para o outro, a comissão administrativa provisória das escolas de Ana Castro Osório passou a dirigir um agrupamento com 2800 alunos e 340 professores. É a maior fusão até agora e, gerir um quadro de funcionários e docentes três vezes maior, tornou-se numa tarefa muito mais complicada. Reuniões gerais com todos os professores deixaram de acontecer: "Precisaria de um estádio para conseguir juntar todos os professores que agora integram o corpo docente", conta ao i António Agnelo Figueiredo, presidente da CAP.
O grande obstáculo é agora conseguir que as orientações da direcção cheguem intactas no final da corrente de transmissão: "Pôr toda a gente a trabalhar junta é o nosso principal desafio, sobretudo porque é imprescindível uniformizar as práticas de escolas que antes tinham métodos de trabalho distintos." Legislar por "despacho" passou a ser o caminho mais rápido e fácil. Os professores tiveram de se habituar às "ordens de serviço" que, em muitos casos, substituíram o debate e a partilha de decisões. A internet entrou no quotidiano das escolas pois é a única ferramenta que permite manter a comunicação com o mínimo de falhas: "Passámos a usar um portal que está em actualização permanente."
MegaReuniões Nas escolas de Penacova, que juntou 1568 alunos de dois agrupamentos extintos, as reuniões também passaram a ter "um número elevado de participantes", conta a presidente da CAP Ana Clara Almeida: "Isso tem dificultado o cumprimento da ordem de trabalhos, a circulação de informação e a tomada de decisões." Para facilitar a comunicação, a comissão criou a figura de representante da disciplina dentro dos novos departamentos que agora incluem várias disciplinas. Depararam-se com novo constrangimento. Dada a redução do crédito global de horas do corpo docente, consequência ligada à fusão, os professores estão ainda mais limitados no tempo disponível para reuniões de planeamento ou de avaliações: "A manutenção do regime de horário de trabalho dos professores, nas circunstâncias actuais, exigindo-se imenso sem contrapartidas, tem sido um quebra-cabeças para a CAP."
Os obstáculos nas escolas de Condeixa não são muito diferentes. O agrupamento juntou 1600 alunos e 210 professores e a recente dimensão do corpo docente "coloca sérias dificuldades ao nível da organização de reuniões, sendo agora mais difícil conseguir "gerir modos de trabalhar distintos", diz a dirigente da CAP Anabela Lemos. De resto, as dificuldades repartiram-se por todos os sectores, mas a pior fase aconteceu na preparação do arranque do ano lectivo. A fusão das várias bases de dados (alunos, professores e funcionários) foi a prioridade, uma vez que foi necessário processar vencimentos, uniformizar documentos contabilísticos, turmas e listagens várias de alunos. Foi portanto preciso reforçar a assistência técnica, o que a Direcção Regional de Educação do Centro não conseguiu prestar, critica a presidente.
Comunicações interrompidas No agrupamento de escolas de Arganil ainda hoje há processos que ficaram incompletos: "A transmissão de tarefas ou de orientações continua a ser um problema, uma vez que ainda não temos um servidor que nos permita comunicar informaticamente com as escolas básicas do 2.o e 3.o ciclos e a secundária onde está a base de dados de alunos, professores e funcionários", conta o dirigente da comissão Fernando Antunes. Cristina Silveira, do Agrupamento de Vila Real de Santo António, não ficou muito surpreendida com as dificuldades que encontrou quando em Agosto assumiu a CAP: "Cada uma das escolas tinha a sua organização própria e a fusão implicou alterar normas e hábitos administrativos ou relacionais." O primeiro puzzle passou por construir horários com professores que dão aulas em duas escolas diferentes.
A diminuição de horas de crédito também aqui não facilitou a distribuição dos cargos nem dos projectos aprovados em cada uma das cinco escolas reagrupadas. Foi preciso ainda importar os processos dos alunos, usando programas informáticos diferentes, reorganizar serviços e processos administrativos e departamentos curriculares tendo em conta a distância entre as escolas. Tudo feito contra a vontade da comunidade, mas que teve de ser feito "porque tem de ser".
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